sexta-feira, 21 de março de 2014

Causos de Godô

Causos do  Godô.


         Este Cordel é uma homenagem a um ilustre personagem do Município de Amontada: Alfredo Ferreira Filho, conhecido entre os amontadenses como "Godó". 

            Muito bem humorado, fazia graça de tudo e de todos. Um humor inofensivo, nato de um cearense, que apesar das agruras, sabia levar a vida com humor sem fazer mal a ninguém.

          Godô não está mais entre nós, mas suas histórias ou causos, como queiram, ficaram na memória de muita gente e, na minha, especialmente, porque as ouvia muitas vezes ao pé de um montulho de feijão a desbulhar nos meus tempos de criança.

           Sua sobrinha foi minha primeira professora, a "Tia Bebel", e este cordel também é, para mim, uma forma de homenageá-la.



Na minha terra querida
Muitos fincaram o pé
De Lurdes, Jeca Tatu
Zé Carnaúba até
Ò! Até gente famosa
De história gloriosa
Como Luíza Tomé.

Gente de história simples
Também mostra seu valor
Alfredo Ferreira Filho
Conhecido como Godô
Era um sujeito bacana
Gostava muito de “cana”
Mas um mestre em humor.

É dele que eu vos falo
E vou homenagear
Nos versos dessa arte
Eu vou vos tentar mostrar
As histórias engraçadas
Vividas, tão bem contadas
Por Godô de admirar.

Numa de suas viagens
A sua terra querida
Encontrou uma senhora
Com sua filha caída
À senhora perguntou
E a ele logo falou:
- Não é que foi comida!

E Godô se espantou
Naquele pau-de-arara
- Num diga minha senhora!
E de quem foi essa tara?
Oh! Minha Virgem Maria!
E a vossa senhoria
Sabe quem foi o cara?

A menina ali caída
Ia a um hospital
Sua mãe ia ver
Consultar doença tal
Godô tinha entendido
Mas pra não passar batido
Se fez que entendeu Mal.

Godô foi à Coelce
Foi chamar a atenção
É que lá no Carcará
Havia reclamação:
- É, um poste lá caiu!
O rapaz se dirigiu
E teve decepção.

Não tinha poste caído
Pior, nem reclamação
Era um senhor caído
Conhecido como “Ribão”
Tava cheio da manguaça
Tinha tomado cachaça
Tava caído no chão.

Ribamar era seu nome
Mas chamava atenção
Era um senhor bem alto
Por isso, nome “Ribão”
E Godô por sua vez
Não dispensava freguês
Dum causo brincalhão.

Altas horas da matina
E Godô meio melado
Lá na casa do sobrinho
Já na calçada sentado
Gritava bem alto: - Zé!
Óh meu prefeito José!
Acode teu tio coitado.

E de saudosa memória
José Abilho então
Respondendo lá de dentro:
- Quem grita no meu portão?
- Me atenda, por favor.
Sobrinho, sou eu, Godô!
Me faça um favorzão.
- Pois pode dizer meu tio.
Pois ouço com atenção.
- Pois você sendo prefeito
Lhe é de obrigação
Não é limpar a cidade?
Tirar “lixo” de verdade?
Pois me deixe em casa, então!

Paus Branco era lugar
De muita animação
Muitas moças recatadas
E dançar podia não
Mas Godô tava por lá
Doidinho pra dançar
Não tinha aceitação.

E chamou duas e três
Mas ninguém a aceitar
Era ele um estranho
Tinha que ser do lugar
- Não importa se for manco
- Tem que ser do Paus Branco
Diziam elas por lá.

E sendo daquele jeito
Godô tinha que aprontar
Pintou ele seu “negócio”
Que era pra disfarçar
E saindo do seu banco
Mostrando que tava branco
As convidou pra dançar.

Além das brincadeiras
Fazia muito favor
Fazia porque gostava
Mas brincava sim, senhor
Ele tinha um sangue forte
É que em tudo tinha sorte
Afinal era o Godô.

Lhe mandaram fazer compra
Dumas coisas que faltava
Mas não levava dinheiro
E fiado não gostava
Mas foi mesmo assim
Achando um pouco ruim
Jeito de brincar achava.

Chegando lá na bodega
Algumas coisas comprou
Café, papel higiênico
Só o café anotou!
O dono sem afronta:
- E o papel é pra conta?
- Não, pra na bunda passar.

Tinha um certo senhor
Homem de meia idade
E tinha um queixo grande
Conhecido na cidade
Com ele Godô brincou
Claro que não dispensou
Uma oportunidade.

E chamou aquele homem
De maneira engraçada
-Posso dizer uma coisa?
De posição afastada
- É que eu só quero dizer
Ó, me dá pra eu fazer
De teu queixo uma enxada.

O que é bom dura pouco
Pois nos vence a idade
Nosso ilustre Godô
Se foi pra eternidade
A alegria que plantou
Em muitas mentes ficou
Lembrança e a saudade.

Nessa arte resolvi
Alguns dos causos contar
Quero que onde esteja
Em plena paz possa estar
Na terra onde viveu
Até quem não conheceu
De Godô ouviu falar.

Carlos André de Oliveira - Autor do Cordel

0 comentários:

Postar um comentário

Deixe seu comentário. Professor Carlos André